"Mané Carvaio"

Já se vão quase dez anos desde que eu conheci o Sr. Manoel Alves de Carvalho, o "Mané Carvaio" como é conhecido pelos amigos em Inaciolândia. Sua estória é muito bonita e mostra um pouco da luta de muitos brasileiros que nós nem conhecemos. "Seu" Manoel nasceu em Minas Gerais, mais precisamente na cidade de Indianópolis, na Fazenda das Furnas. Desde criança, junto com seus irmãos e irmãs aprendeu um dos mais antigos e importantes oficios do mundo: a lida com terra. E foi este amor pela terra que norteou sua vida. Casou-se com a Dona Oswalda nos fins dos anos 1950, e como muitos de seus conterrâneos em busca de vida melhor, foi se aventurar em meados da década de 1960 nos então selvagens campos do sudoeste Goiano. Começou do nada: tinha apenas alguns bois e chegando à terra, comprada em sociedade com o sogro, montou uma tapera e desmatou os campos sem equipamentos ou máquinas: apenas no machado e na foice. Teve cinco filhos: Celi Terezinha, Dilma Lúcia, Márcio, Moacir e Marysa, minha esposa. Sempre lutou muito contra as adversidades de uma vida sempre levada ao sabor das intempéries: a sina de todo agricultor que escolheu este ofício tão difícil e importante de lidar com a terra. Brigou contra a falta de dinheiro, contra a falta de apoio de sucessivos governos, contra as pragas, contra o clima, contra si mesmo. Seus filhos cresceram e deram a ele netos. Quando o conheci seus netos já eram crianças grandes e todos formavam uma grande família barulhenta, por vezes briguenta, mas de um amor e carinho raros. Eu me lembro com saudade e alegria dos feriados e dias santos, quando nos reuníamos na Fazenda Campanha, em sua casa simples mas extremamente acolhedora, das conversas, dos churrascos, dos assuntos sem fim, da grande algazarra feliz que se formava. "Seu" Manoel "coordenando" as atividades da casa e Dona Oswalda correndo para realiza-las. Tudo com muito amor e carinho. Todos adoravam o "Vô" Manoel, brincado com os netos e contando suas estórias de aventuras, conversando dos mais diversos assuntos com os genros. E como ele gostava dos genros! Eu não me lembro de receber de mais ninguém um abraço mais caloroso e sincero dele quando chegava a sua casa. E como ele era carismático e amigo: quando iamos até a "vila" (Inaciolândia) levavamos dez minutos para comprar os mantimentos que a Dona Oswalda precisava e duas horas conversando com seus amigos e pessoas que tanto o estimavam. Mas, infelizmente, "Seu" Manoel tinha alguns problemas de saúde e nos últimos meses precisou realizar uma cirurgia para corrigir um problema circulatório. A cirurgia foi um sucesso, mas revelou outro problema: um carcinoma que o deixou doente e foi debilitando sua saúde. Ele foi ficando fraco e retornou a casa do Pai ontem pela manhã. Porém, não estou aqui para santificar ou demonizar sua memória, muito menos para entristecer o coração de quem o conheceu. Manoel Alves de Carvalho foi um homem, uma pessoa como eu e você, imperfeita, cheia de defeitos e virtudes, porém muito amada por todos aqueles que conheceu. Não podemos julga-lo sem antes nos julgarmos e sem antes conhece-lo. Em um dos tristes dias de sua doença, ele, acabrunhado e desanimado com a ardua luta que travava para viver, disse a sua filha caçula: "Mane Carvaio acabou!". Ah! "Seu" Manoel, que engano: "Mane Carvaio" não acabou! "Mane Carvaio" não morreu! Eu posso sentir sua presença em cada um dos seus filhos, nas feições, na personalidade, nos gestos. Posso senti-lo em minha filha de seis meses. Ele está presente em cada árvore que plantou na Campanha, na terra que hoje guarda seu corpo. "Mane Carvaio" está entre nós, vivo em nossos corações, nas estórias que contava e nos amigos que deixou. Assim, não fiquemos tristes imaginando onde ele estará e se estará bem: tenho certeza que ele com seu carisma e aquele jeito mineiro, meio matuto, meio desconfiado, deve estar agora contando suas estórias para os anjos e jogando escopa com aqueles que já se foram. Mané Carvaio, nós te amamos!

Comentários

Unknown disse…
Tio Fábio, você se expressou muitissimo bem! Eu agradeço essa sua homenagem ao meu avô, ele foi um grande batalhador pra conseguir o que tem. Uma frase que ele disse ao seu cumpadre e que achei interessante foi:"a gente nunca teve muito dinheiro, os meninos andavam até nus, mas o de comer eu nunca deixei faltar". Eu fico emocionado quando lembro disso e acredito que ele não queria ver ninguém sofrendo como nós estamos. O porém é que está difícil...mas com o tempo nós iremos acostumar com a sua ausência, mas esquecê-lo jamais.
Vô, se você se ogulhava de mim, pode ter certeza que era eu que tinha orgulho do Senhor.
João Gabriel.

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